Segunda-feira, 28 de Novembro de 2005
Universos Paralelos...

Existem em nós diversos planos...acredito nisso
E todos coexistem ao mesmo tempo... o plano espiritual, o mental, o intelectual, o emocional, o sentimental... são aquilo a que eu chamo universos paralelos...
E existe o plano virtual... aquele onde se pintam os sonhos...
E existe a forma irreal de materialização de virtualidades...o chat

Seja qual fôr o motivo subjacente... a motivação primeira, aquela que leva alguém a procurar uma sala de chat....penso que será sempre a curiosidade..
“O fulano de tal disse-me que aquele chat é fixe..que se passam lá bons momentos...deixa lá ir espreitar para ver como é aquilo”...
Hummm... “aquilo” até é giro...
”Ena pá... falam todos uns com os outros... mandam umas bocas....riem-se um bocado...é giro... parece que todos ou a maior parte se conhecem... parece um local de encontro diário e sistemático”

“Nicks” que são personagens... personagens criadas de acordo com o espaço onde se movimentam...muitas vezes hologramas exactos do criador...outras uma pintura do imaginário, uma ficção...e grupos de nicks que teclam entre si... como grupos de amigos à mesa de um café...
E surgem frases, respostas, conversas....azuis, cinzentas, vermelhas....

E de repente... a virtualidade é uma realidade... somos transportados para um universo paralelo....o universo das ondas mentais... sem a materialidade física do som ou da imagem...onde as “conversas” são escritas... onde a energia dominante é determinada pela mente... onde os planos se misturam e se confundem num só...o plano emocional...
Mas o certo é que todo este universo... toda esta passagem para uma superestrutura mental... parece ser ao mesmo tempo uma infraestrutura do sonho... do inatingível...de qualquer coisa de diferente... que se vive, se sente e é viciante....
Criam-se laços...afinidades, empatias, cumplicidades, amizades...
E partilhas... ideias, intimidades, estados de alma, emoções, sentimentos...
E sonhos...imagens, viagens, vontades, desejos

As amizades surgem de um dia para o outro, basta estarmos abertos a elas....muitas vezes o nivel de sensibilidade é tal que se “reconhece” o outro pela simples troca de meia dúzia de frases...o chamado click....e encontram-se "almas gémeas"...
A realidade quotidiana passa para segundo plano....os problemas pessoais e familiares esbatem-se... procura-se o prazer, o êxtase, o bem estar que se sente.... alguém que está do outro lado do monitor... alguém que preenche vazios....que todos os dias também nos procura... porque existem afinidades, vontades e partilhas comuns... alguém que adormece e acorda connosco...e que, por outro lado, estabelece um paralelismo entre o que temos e o que poderiamos ter... entre a realidade e o sonho...

Em termos racionais existe a consciência de que tudo não passa de virtualidades....coisas irreais, ilusórias...
Mas em termos emocionais existe a sensação de “proximidade”...a mente tem um poder enorme e teletransporta-nos muitas vezes em termos vibratórios para junto do outro...
É que ao contrário da vida real... em que a aparência física é o factor principal e só depois se vai ver o que há no interior... nas relações virtuais o primeiro contacto é com a mente...o contacto intelectual... depois o emocional, o afectivo... e só depois, às vezes, o físico.

Então surgem as dúvidas... surge o questionar de opções tomadas e objectivos traçados na vida...surge a sensação de desconforto...o desejo de evasão, de renúncia a um status pré-estabelecido...
E a par da dúvida surge a causa que a ela deu origem....a paixão virtual...
Coisa estranha para os mais pragmáticos... racionalmente sem lógica ou sentido algum...mas que é muitas vezes um reflexo de sonhos....daquilo que queremos que aconteça...e que se torna talvez ainda mais forte que nas relações reais... e o facto de as pessoas não se exporem visualmente... de os limites físicos não existirem (a distância geográfica e a personificação do nick)... facilita ainda mais a abertura das emoções... é que o monitor esconde e protege...é um escudo...

E pela ordem natural das coisas... e até por uma questão de equilibrio psicológico... uma aproximação virtual de pessoas com afinidades e sensibilidades comuns pressupõe como desfecho o contacto físico... e surge a necessidade de concretização do que se foi construindo ao nivel virtual....
Por vezes a visão real é uma desilusão... porque a imagem mental que se foi formando não cola com a imagem real...e a máscara cai...acaba o sonho, a ilusão....
Outras vezes existe uma plasmação da imagem mental com o ser físico e todo o universo já existente se itensifica...todo o estado emocional até aí construido se fortalece e acontece a entrega...surgem os gestos, os olhares, as palavras... o envolvimento....

Universos paralelos vividos e sentidos como reais...é o meio virtual onde existe magia...onde tudo o que parece nem sempre é....e onde é extremamente fácil a comunicação e a aproximação das pessoas..



Publicado por DianadosBosques às 05:11
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Terça-feira, 22 de Novembro de 2005
Pequenos nadas...

Ontem criticaram o meu lado sombrio...
E como nada acontece por acaso...essa crítica deixou-me a pensar...

Afinal todos temos o nosso lado solar e por contraponto o lado lunar..é o verso e reverso da mesma moeda...

Eu tenho pequenos nadas de mim ...os meus pequenos sóis...
Olhar o mar... a lua... os cheiros do campo nas manhãs orvalhadas de Verão... conversar e fazer amigos...ficar feliz quando, sem nada ter dado de valioso, contribuio para o bem estar de alguém pelo simples facto de lá estar no momento certo...sentir a música e viajar nela... perder-me num olhar...momentos especiais e pessoas especiais...

Ou então outros pequenos nadas... as minhas pequenas luas...
Ficar quieta num canto sem falar nem pensar...ouvir a chuva bater na janela...chorar (porque não?)...falar no silêncio de mim...viver momentos de mim...pensar em coisas esquisitas...ser piegas... pedir atenção...precisar de carinho...um gesto...um olhar...

Mas então...se eu sou ambas as faces da moeda... se sou o Sol e a Lua num abraço que me caracteriza...
Se sou luz... quando viajo, quando sonho, quando me evado de mim, quando o meu sonho encontra o acreditar...
E se sou escuridão...quando o céu está mais cinzento e eu me sinto como um dia de chuva...triste, melancólica e sentimental...

Se este amontoado de emoções e sensações sou eu...não tenho porque ocultar partes de mim dos que me olham e sentem... como um todo existo e sou... e ao pretender enfatisar a luz em detrimento da escuridão, ou vice-versa, mais não faço que ocultar-me de mim mesma...

A vida é feita de pequenos nadas... a vida é feita de pequenos nadas que somos nós...
Porque nós somos o que acontecemos...



Publicado por DianadosBosques às 19:41
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Domingo, 20 de Novembro de 2005
Recortes (Parte 2)...

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

“Eros e Psique”, Fernando Pessoa

sonho2.JPG

Quem fez ao sapo o leito carmesim
De rosas desfolhadas à noitinha?
E quem vestiu de monja a andorinha,
E perfumou as sombras do jardim?

Quem cinzelou estrelas no jasmim?
Quem deu esses cabelos de rainha
Ao girassol? Quem fez o mar?
E a minha Alma a sangrar? Quem me criou a mim?

Quem fez os homens e deu vida aos lobos?
Santa Teresa em místicos arroubos?
Os monstros? E os profetas? E o luar?

Quem nos deu asas para andar de rastros?
Quem nos deu olhos para ver os astros
Sem nos dar braços para os alcançar

“?”, Florbela Espanca

44414_wallpaper280.jpg

Fiz com as fadas uma aliança.
A deste conto nunca contar.
Mas como ainda sou criança
Quero a mim própria embalar.

Estavam na praia três donzelas
Como três laranjas num pomar.
Nenhuma sabia para qual delas
Cantava o príncipe do mar.

Rosas fatais, as três donzelas
A mão de espuma as desfolhou.
Nenhuma soube para qual delas
O príncipe do mar cantou.

“Fiz um conto para me embalar”, Natália Correia



Publicado por DianadosBosques às 18:14
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Recortes (Parte 1)...

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar

Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

“Quando a luz dos olhos meus”, Vinicius de Moraes


eye-thumb.jpg

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

“Saudade”, Pablo Neruda
_________________________

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,um incêndio.
Outras,orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

“As palavras”, Eugénio de Andrade



Publicado por DianadosBosques às 16:59
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