Lembro-me tanto…
Dos momentos…os breves longos momentos...
Em que os dois eramos um só...
Momentos de nós que ninguém mais entendia...
Há coisas inexplicáveis e que não existem...
A comunicação fazia-se sempre por vias mais ou menos límpidas e invisíveis...
Um orgasmo dos sentidos na corrente de pele e energia que passava de ti para mim e vice-versa...
Uma palavra tua...eu adivinhava o pensamento implícito...
Uma frase tua...eu conhecia o teu sentir...
E tu adivinhavas-me nos meus mais pequenos gestos e expressões...
No fundo era isso que eu mais gostava...quando me adivinhavas...
Sem eu pedir nada...sem dizer uma palavra...
Era tão bom o silêncio das adivinhações...
E tão penetrante o teu olhar de mar...
Deixava-me nua... e com um sentimento misto de fuga e prisão...
Lembro-me tanto...ahh mas tanto...
As horas inesquecíveis...curtas longas horas de conversa...
Perdidos do mundo e encontrados em nós...
Deliciosas conversas em que o silêncio falava tanta coisa...mas tanta coisa linda...
Tanta certeza de ti e de mim...tanta partilha dos dois nos dois...
Em que eu sabia que eras meu...nesses breves longos momentos...
E estavas lá para mim...só para mim e mais ninguém...
Às vezes fazia birras de menina mimada...
Menina que não sabia que, por vezes, te feria fundo no coração...
Sempre fui, de facto, uma menina...a tua menina...
Gostava quando me chamavas assim... “A minha menina”
Sempre soubeste dar-me o melhor de ti, mesmo quando estavas magoado comigo...
E tanto que eu desperdicei de ti por causa do orgulho...orgulho de menina mimada...
Eramos almas gémeas que se completavam e complementavam...
Sim...elas existem...mas muito raramente as encontramos...
Tanto que me deste...
E tanto que de ti ficou em mim...
Sinto-te a falta...mas tanto...
Anda...vem dai...
Dá-me a mão e vamos partir à aventura do sonho...
Entre fábulas e histórias de encantar...
Entre mistérios, emoções e magias...
Partilha-me em ti...conta-te a mim...
Fala-me de conversas banais e profundas...
Fala-me de sonhos e ilusões...
Fala-me de medos e tormentos...
Fascínios e torturas...
Partilha-me em ti...conta-te a mim..
Fala-me de viagens e alucinações...
Fala-me de caminhos, luares e estrelas...
Fala-me de extases e nostalgias...
Imensidões de mar e desertos sem fim...
Conta-me tudo...
Sem medo, sonda-me a alma...
Examina-me a mais ínfima célula...
Adivinha-me no teu sentir...
Conta-me tudo...
Solta-te em mim...deixa-me à solta em ti...
Vira-me ao avesso...procura-me...
E descobre-me...dentro de ti...
Anda... vem dai...
Não sei quando me entrego...nem sequer como me entrego...
Apenas sei que me entrego...
Pouco a pouco...
Um je ne sais quoi de intimidade e de doce invasão que me abraça e me desperta os sentidos...
Um toque quase indefinível...quase imperceptível...mas...
Um toque suave...terno...
Um aflorar dos dedos...as pontas dos dedos...
Uma carícia e um sentir de pele, num crescendo de ondas espalhadas por todo o corpo...
Uma sensibilidade acordada de um sono profundo...um arrepio...
Uma qualquer coisa estranha e agradável que cresce dentro do peito... vem de lá do fundo e propaga-se... e rebenta no toque...
Uma mistura de palavras que são gestos...
Um conjunto de gestos que são palavras....
Pequenas coisas feitas de pequenos momentos...
Momentos de viagem... momentos de imagens....
Momentos de sonho e do sonho...
É assim o toque...
Apenas sei que me entrego...
Pouco a pouco...
Não me lembro exactamente quando foi...
Prefiro dizer que naquele momento a minha estrela subiu mais alto e encontrou a tua...
E depois voltou a cair... qual estrela cadente...
Não me lembro...durante algum tempo não lembrei...
A estrela continuou a viagem por outros céus, encontrando outras estrelas...
Numa das piruetas do sonho (talvez até fosse a tontura provocada pela pirueta)... a estrela viu um clarão brilhante...uma espécie de sinal de aviso...
Era de novo aquela estrela...e brilhava muito mais...a tua estrela...
E a estrela dessa vez não caiu...
Tu movimentavas-te num circo de vaidades... sôfrego dos olhares curiosos e ansiosos...
Um circo em que cada dia de espectáculo era um êxito de bilheteira...
Pensei-te... e esqueci...
Seduzi-te... e desisti...
De repente surgiu uma aliança... e um pacto...
Um pacto indelével à vista, mas profundo no sentir... selado com o selo da certeza e da autenticidade...
Por vezes, no teu jeito de criança confusa e aturdida, dizes-me ... ”sou uma pessoa normal...não entendo...”
Eu digo-te... ”há coisas que... ou se tem ou não se tem...let it be...”
Nem sempre as palavras definem ou a lógica explica...
Depois dizes-me... ”conheces-me por dentro e por fora...”
Eu digo-te... ” Conheço-te em pedaços de mim...”
Outro patamar... outra dimensão...
É tão forte o que nos une... como imenso é o que nos separa...
Ambos sabemos...
Thanks for letting me in....