Aconteceram-me recentemente duas situações que me deixaram triste e perplexa..
Uma delas, de uma forma muito directa, fez-me perceber que se pode perder uma amizade com um estalar de dedos...
Sem que eu tivesse feito alguma coisa para que isso acontecesse...
Apenas porque, por razões alheias a mim, tive necessidade de me distanciar e estar mais ausente...
Fui julgada e condenada pela ausência e pelo distanciamento...
A outra situação, de uma forma mais indirecta, levou-me a chegar à mesma conclusão.
Julga-se, conclui-se, condena-se...
Os motivos subjacentes podem ser variadíssimos...ódios, ciumes, invejas, despeitos, posse, carência..
Ou ainda pior...falsidades e situações forjadas em contextos forjados...
Pergunto... o tempo e a entrega não contam?.. o conhecimento adquirido do outro não conta?...
E as provas de amizade dadas não contam?...
Será que tem mais peso um julgamento do momento, ou uma entrega de meses e por vezes de anos?..
Isto que acabei de escrever foi-me questionado..
E de facto..será que posso duvidar de uma pessoa que conheço bem?
Do mesmo modo, pode uma pessoa que me conhece bem duvidar de mim?Numa das situações fui ré...
Na outra, ainda que não querendo acabei por ser, de certa forma, juíz..
E a questão coloca-se.. tenho esse direito?
Se eu conheço o outro quase como me conheço a mim mesma...
Se o seu carácter e integridade são para mim evidências inequívocas...
Se sei, à partida, do que é ou não capaz...
Então não posso, não tenho o direito de duvidar.. ninguém tem..
Da mesma forma, a reciproca é verdadeira..
Ou então o conhecimento do outro não existe.. e, por acréscimo, a amizade não existe..
E eu sei que existe..
Numa amizade, seja ela de que tipo fôr, existe partilha...
De momentos, de ideias, de tristezas, alegrias...whatever..
PARTILHA..
E tudo o que se partilha integra o outro em nós e nós no outro..
Não é uma superficialidade.. é algo de profundo que não se esboroa com a brisa da tarde...
É algo que fica e permanece inalterável, dê a vida as voltas que der...
Por isso e voltando atrás.. não tenho esse direito..
Tenho, sim, o dever de acreditar..
E acredito...
Lembrei-me de ti...
Lembrei-me de nós...
Como te vi, como te conheci, como te senti...
Como te vivi, como te dissequei...
Como partimos, como voltamos...
Como ansiamos, como rejeitamos...
Como me perdi...como nos perdemos...
Doces momentos...
Vividos, sentidos...recordados...
Lembranças longínquas e ténues...qual nevoeiro pela manhã...
Doces, suaves...plenas...
Foram tempos de mudança, tempos de viragem...
Conturbados por vezes...ternos outras tantas...
Uma encruzilhada no meio do caminho...
Que me relembra que ainda existes...aí, algures no teu canto...
E aqui...naquele cantinho reservado, que só eu conheço...
O ciclo fechou-se...
Ficou o sonho...
Ficamos nós nessa viagem...
Ficou a semente de algo...
Lindo, profundo e puro...
Duas almas viajantes do cosmos...
Para além do impossível...
E para além do sonho...
Lembrei-me de ti...
"Sozinho" - Caetano Veloso