É tudo tão estranho...
-"Estranho? "
Sim... esta sensação que já te encontrei antes...
-"Não acho estranho..."
Não?
-"Não. Sabes quem sou eu?"
É claro que sei...
-"Pois sabes. Mas pergunto se me conheces... cá dentro..."
Ah, isso ainda não... mas é giro, porque tenho a sensação que sim...
-"Pois tens... e conheces..."
Conheço?
-"Sim... Eu também te conheço..."
Ai sim?
-"Conheço-te, porque me conheço a mim mesmo..."
O que dizes, às vezes, é-me tão familiar...
Falas de coisas que são paradigmas para mim e pelas quais traço um objectivo de vida. E ainda me dizes que não achas estranho?
-"Os teus paradigmas são assim tão transcendentes, ao ponto de serem estranhos?"
Não, não é isso... sabes que não é fácil encontrar pessoas que sintam e pensem igual...
-"Almas gémeas?"
Por aí, sim... é estranha a ligação das coisas...
-"Encontraste-me a mim..."
Sim, mas isso torna-te perigoso...
-"Perigoso?"
Sim...
-"Explica-me... perigoso porquê?"
Porque posso vir a gostar mais do que aquilo que quero...
-"Tens medo?"
Algum...
-"Medo de quê????"
Da dor, da decepção... conheço-as bem, cheiro-as à distância...
-"Não concordo com esse medo..."
O medo não se procura...
-"E a entrega procura-se?"
A entrega é um abandono voluntário... é consciente, o medo não...
-"É consciente porque confias... porque acreditas..."
Claro que sim...
-"Se confias e não tens medo da entrega, como podes ter medo da dor?"
Não sei...
-"Não sou eu que te faço sentir medo ou alguma outra coisa...
És tu que me sentes, sou eu que te sinto a ti..."
Talvez...
-"Sabes uma coisa?"
Diz...
-"A vida é uma sucessão de escolhas..."
E também de preços a pagar pelas escolhas feitas...
-"A escolha és sempre tu que a podes fazer..."
Pois posso... e será que sei?
-"Sabes... porque não sou eu que sou perigoso. És tu que escolhes não te deixar magoar..."
Talvez tenhas razão...
-"Já te convenceste?"
De quê?
-"Que me conheces?"
Porque te sinto?
-"Sim, porque me sentes... E já sabes quem sou?"
Vou sabendo...
-"Não, tu já sabes..."
Não sei, não...
-"Sabes!!
Porque eu... sou tu..."